Minha
palavra favorita sempre foi hortifrutigranjeiro.
Não pelo sabor. É pelo nome mesmo, o jeitão esquisito dela, cheia de meias outras palavras. É claro,
também tem outras muito engraçadas: soslaio, esdrúxulo, vasilhame, Tegucigalpa.
E piauiense, a favorita da vovó. Ela disse que piauiense é palavra milagrosa,
porque tem cinco vogais juntas. Se é milagre eu não sei. Mas que é esdrúxula,
é.
Desde
pequeno eu parecia com a vovó. Primeiro só fisicamente, depois tudomente. Ainda
mais nesse negócio de cismar com umas palavras assim sem mais nem por quê.
Mamãe
não larga do meu pé de vento. Fala que eu sou doido, que eu tenho cada mania,
que sei o quê. Um saco! Ela nunca parou pra pensar no tanto de palavra legal
que tem por aí. Pera aí, que eu pensei uma coisa. Palavra legal que eu sei
muitas, mas será que tem palavra ilegal? Alguma assim, proibida por lei? A partir
de hoje fica proibida a palavra boletim.
Não, a palavra brócolis. Não, a palavra derrame.
Semana
passada eu fui para Montes Claros ver a vovó. Tava ruinzinha a coitada. Derrame.
Pessoal aqui de casa falou que não era pra eu ir não, que ia incomodar, ia
encher a casa, dar trabalho, nhenhenhém. Falei que ia e pronto, pô. Eu aqui,
cheio de saudade e distância.
CUNHA, Leo. Pela
estrada afora. São Paulo: Atual, 1993.
Nenhum comentário:
Postar um comentário