Identidade
Às vezes, num fim
de tarde,
Não sei porque,
eu me sinto assim,
Feito alguém sem
identidade,
Parece até que eu
me perdi de mim,
Nas ruas dessa
cidade,
No meio desse
vai-e-vem sem fim,
Buscando minha
verdade
Sem saber pra
onde vou, nem de onde eu vim.
Então, eu parto
em busca da nascente,
Onde brotei,
riacho de água clara,
E vou regar a
flor do novo amor
Que no meu peito
o coração prepara.
Peço carona a um
pé-de-vento
Que passe onde
cresce a açucena
Pra aprender como
se rouba o cheiro
Da maciez de uma
pele morena.
Às vezes, num fim
de tarde... (refrão)
Então, eu deito à
sombra da mangueira,
Como se fosse fim
de primavera,
Pra que a boca,
com o gosto do fruto,
Saiba a doçura
que a alma espera.
Vou me banhar lá
na cachoeira,
Véu de noiva
branco como o linho,
Para lavar do
peito toda a mágoa,
Da pele, o pó que
trago do caminho.
Às vezes, num fim
de tarde... (refrão)
Mas eu bem sei
que a minha identidade
Mora em meu
canto, verso e melodia,
Mora na moça que
eu beijo de leve,
Como uma flor que
o vento acaricia.
Mora nas asas do
meu pensamento
Quando liberta a
suave rebeldia
De quem ainda
crê, seja possível
Ganhar o pão, sem
perder poesia.
Hardy Guedes.
2º texto
Como
diria Dylan
Ei você que tem
de oito a oitenta anos
Não fique aí
perdido feito ave sem destino
Pouco importa a
ousadia dos seus planos
Eles podem vir da
vivência de um ancião
Ou da inocência
de um menino
O importante é você
crer
Na juventude que
existe dentro de você
Meu amigo meu
cumpadre meu irmão
Escreva sua
estória pelas suas próprias mãos
Nunca deixe se
levar por falsos líderes
Todos eles se
intitulam porta vozes da razão
Pouco importa o
seu tráfico de influências
Pois os
compromissos assumidos com o povo
Ganham
subdimensão
O importante é
você ver
O grande líder
que existe dentro de você
Meu amigo meu
cumpadre meu irmão
Escreva sua
estória pelas suas próprias mãos
Não se deixe
intimidar pela violência
O poder da sua
mente é toda sua fortaleza
Pouco importa
esse aparato bélico universal
Toda força bruta
representa nada mais
Do que um sintoma
de fraqueza
O importante é
você crer nessa força incrível
Que existe dentro
de você
Meu amigo meu
cumpadre meu irmão
Escreva sua
estória pelas suas próprias mãos
Zé Geraldo.
Refletindo e
registrando
Para que você possa se expressar com frases
completas, corretas, com coesão textual (uma ideia com começo, meio e fim) e
para que suas ideias tenham sentido, consistência e conteúdo é bom acostumar-se
a fazer o registro de seus pensamentos.
Assim, na hora de expô-los, você não perderá
a sequencia de seu raciocínio.
Comentando
1. A letra da música de Hardy Guedes introduz
o tema identidade de forma a levar-nos à reflexão.
Quantos jovens, adolescentes, sofrendo
modificações físicas e psicológicas, não se sentem assim como falam os quatro
versos iniciais?
Na sua idade, com as mudanças que vão
acontecendo e "porque já estavam ficadas prontas", segundo Guimarães
Rosa, você também sente insegurança? Por quê? Tem medos, receios? É um mundo
desconhecido? Argumente.
2. Na 2ª estrofe, a personagem reage. O que
significa ir em busca de sua nascente? E regar a flor do novo amor que o seu
coração prepara? Opine e justifique.
3. Os versos da 3ª estrofe indicam o despertar
para o amor. E isto é dito de forma muito poética. Comprove.
4. Que relação tem o fruto da mangueira com a
doçura da alma de um jovem que espera?
5. Na 6ª estrofe há uma comparação. Qual é
ela? Comente.
6. O ato de banhar-se, que, aqui, tem sentido
figurado, significa deixar uma fase da vida para trás. Você sente isso? Como?
Quando?
7. Onde está a verdadeira identidade do poeta?
E o que você entende por identidade?
8. Na letra da música de Zé Geraldo já nos
deparamos com a continuidade dessa transformação que acontece com as pessoas: o
que fazer com a vida aos 8 ou aos 80 anos? E é a partir daí que vamos refletir:
a) A inércia, representada pela "ave sem
destino", não leva a nada e a ninguém. O que é importante para o ser
humano independente de idade e identidade? O tamanho da ousadia de cada um
influi no desenrolar da vida? Justifique.
b) Primeiro: Somos nós que escrevemos nossa
própria história ou existe um destino traçado para cada um de nós? Argumente.
Segundo: Escrever a sua história? Como? De que forma?
c) Na 3ª estrofe encontramos um alerta. A vida
não é feita só de fantasia, alegria e bonança. Ela também é violenta, rude,
cruel, parecendo injusta. E o que fazer diante de fatos como drogas, bebidas,
libertinagem? (Procure no dicionário a diferença entre liberdade e
libertinagem.)
d) Nada é tão forte quanto sua crença em você!
Na fortaleza de sua mente. Mas toda crença, toda fortaleza precisa ser
alimentada. De que modo os jovens podem fazer isso?
e) Quantas vezes você já ouviu a expressão
"Qual é o grilo"? Os jovens sabem lidar com seus grilos? Os adultos
têm alguma participação nisso? Eles são importantes? Como? Quando? Comente.
f) Zé Geraldo tem um refrão em sua música. Por
que ele insiste nessa ideia contida em seus versos repetidos? Você descobriu?
Fale sobre isso.
g) Emita um julgamento de valor. Releia a
frase de Guimarães Rosa. Você já conhece um pouco de sua linguagem. Assim,
comente-a e conclua.
PRATES, Marilda. Encontro
e Reencontro em Língua Portuguesa: reflexão e ação. São Paulo: Moderna,
1998.
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