quinta-feira, 17 de novembro de 2011

TORTURA E GLÓRIA

          Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos. Veio a ter um busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria.
        Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de algum livrinho, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima com paisagem de Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes. Atrás escrevia com letra bordadíssima palavras como data natalícia e saudade. 
         Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia.
        Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía As reinações de Narizinho. 
          Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria. Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu nadava devagar num mar suave. No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes eram a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.
           Bom, mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono de livraria era tranquilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do dia seguinte ia se repetir com o coração batendo.
          E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer está precisando que eu sofra.
          Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você não veio, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se formando sob os meus olhos espantados.
          Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Esta devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não entender. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler! E o pior para ela não era essa descoberta. Devia ser a descoberta da filha que tinha. Com certo horror nos espiava: a potência de perversidade de sua filha desconhecida, e a menina em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar agora mesmo As reinações de Narizinho. E para mim disse tudo o que eu jamais poderia aspirar ouvir. “E você fica com o livro por quanto tempo quiser.” Entendem? Valia mais do que me dar o livro: pelo tempo que eu quisesse é tudo o que uma pessoa, pequena ou grande, pode querer.
           Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração estarrecido, pensativo. 
          Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei mais comendo pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.
          Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo. Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.

  LISPECTOR, Clarice. In.: O pequeno livro das grandes emoções. Brasília: UNESCO, 2009
          Após a leitura desse texto de Clarice Lispector, conversamos sobre o que é tortura e o que é glória. Debatemos também sobre as grandes emoções  de nossas vidas. A proposta de produção foi contar uma grande emoção pela qual ja tivesse passado. Confiram os resultados abaixo.

12 comentários:

  1. Uma das minhas maiores decepções foi em saber que minha melhor amiga 'Ficava' com o menino que eu mais amava. No começo eu fiquei com tanta raiva dela, porque eu contava pra ela que eu gostava dele,e que não suportaria se uma amiga minha ficasse com ele .
    Daí então se passaram muito tempo. E quando foi agora descobrí de novo que ela havia traido minha confiança outra vez . E por esse motivo eu fiquei com raiva dela por algum tempo . Mais as coisas ja se esclareceram pra mim e para ela.

    Rafaela Medeiros.

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  2. Minha maior alegria foi ter descoberto que eu tenho verdadeiros amigos e que quando eu precisei eles estavam aqui do meu lado...é otimo saber que não se está só que se pode contar com alguém,na alegria e na tristeza...
    Paloma Shelman 9ºB

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  3. Uma emoção que sinto muito forte é a preguiça porque eu durmo tarde demais,acordo tarde demais e não faço nada demais.Eu começei a ter tanta preguiça depois que eu me mudei para a casa que eu moro atualmente,antes eu não era assim más hoje quem vê eu lavar um prato? Sou uma preguiça morta e não faço nada.

    Nome:Walter MateusBezerra Néry Série:9°B
    Turno:T Prof:Evilane

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  4. E um lugar maravilhoso,lindo e calmo onde muitos turistas frequentam.
    Pela primeira vez nas minhas ferias fui para Fecheiras/CE, um lugar onde nunca ninguem esqueçe,
    Pela manhã iamos para praia e a noite para a praça, sentavamos no banco tomando sorvete etc...
    Quando vi embora ate chorei porque queria ficar lá, nunca me esqueçi de la e nem vou esqueçer , e um lugar marcante na minha vida, aconteçeu muitas coisas boas e ruins, mais nao quero lembrar de coias ruins.
    Sempre quando vou pra la fico nao durmo nem a noite pensando em ir a praia .
    E um lugar onnde tem muita gente bonita e ate demais.
    Flecheiras e um paraiso onde muitas pessoas frequentam..[

    M'S 9° B

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  5. Minha maior decepção foi ter conhecido a Paloma.

    @SS:Oz Tcho

    9ºano B

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  6. Minha maior decepção foi saber que Davi tiha falecido.

    @SS:Oz Tcho

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  7. Minha maior Alegria foi ter conhecido Oz Tcho.

    @SS:Oz Tcho.

    9ºano B

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  8. Minha maior alegria foi ter conhecido Oz Tcho.

    @ss:Oz Tcho

    9ºano B

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  9. Meu melho monento foi quando e tinha conhecido um garoto muito legal,conheci ele faz cinco anos atraves de um amigo em comum foi ai que agente comeso a se fala, então trocamos numeros de telefonis ele foi minha primeira paixão mais hoje somos apenas amigos;

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  10. minha vida meu viver
    minha decepcao e por eu ser uma menina adotada, eu sofro mas nao muito tenho uma irma de 6 anos me sinto regeitada por minha mae que me cria, as vezes ele e chata e as vezes ela e legal me trata como se eu fosse a minha irma mas ela tem que colocar na cabeça dela que tenho 15 anos e namoro nao sou mas uma criança, nao sou uma santa eu cometie muitos erros,com 12 anos de idade me mesturei com pessoa nao do meu nivel e acabei me envolvendo com um menino o nome dele era rafael, minha mae nao aceitava mas chegou certo tempo que eu nao tava mas afim de ficar com ele entao ela descubriu que eu estava ficando com ele e mandou eu ir para o interior,sofrie muito pois meus pais se decepcionou muito e nao queria mas que eu voltase pra fortaleza.chorei,sofri e me desesperei muito lar entao 2 semanas depois liguei de novo e ele decidio mim dar uma chance, entao resolvi mudar nunca mas nem vi esse menino, e com meus 14 anos começei a namorar em casa pela primeira vez um menino chamado alef, foi outro sofrimento lutei e passamos 1ano e 6 meses depois eu terminei por que nas minhas ferias viajei e figuei com o renato que ate hoje eu me arrependo muito, quando cheguei de viagem terminei com meu namorado e continuei ficando com o renato que eu figuei no periudo que eu estava viajando,contei para o alef tudo que fiz e o motivo que eu tava terminando, entao ele chorou muito e sofreu com tempo mas ele ainda quiz se ajeitar comigo mas eu nao quiz, tava tao obcecada que eu nao quiz saber de voltar e com um tempo descobrie que o renato era casado sofrie muito e deixe, passei um pouco tempo só, ele atras de mim e eu nao querendo mas estava gostando muito dele entao eu me decepcionei com ele e quando foi domingo passado meu ex-namorado o alef foi lá em casa mas eu nao estava em casa, quando eu cheguei minha mae mi falou que ele tinha ido lá em casa entao fiquei pessando sera que devo atras da minha felicidade?quando foi na terça-feira liquei para meu ex-namorado e resolvie voltar ele disse que ja era tarde mas fui ate o fim,ele foi la em casa na quinta-feira e entramos em um acordo de mim mudar e vou mudar por ele,mas o renato começou ir atras de mim mas uma vez,nao vou mentir gosto muito dele mas nao vou voltar nao vou ser costa larga,fiz uma promesa de mim nao trair o alef pois estou tentando e estou sendo feliz entao e essa minha decepçao troguei o certo pelo duvidoso e acabei me arrependendo.

    (sou uma menina que nao posso me endentificar)

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  11. MEU ÓDIO

    SEMPRE TENHO ÓDIO DE PEQUENAS COISAS,POR EXEMPLO TENHO ÓDIO DAS PESSOAS ALEGRES DEMAIS.NOSSA,AQUELE SORRISO ALEGRE ME DÁ NOJO.
    SEMPRE TENHO ÓDIO DAS PESSOS LESADAS QUE SEMPRE NÃO FAZEM NADA E AINDA COLOCAM A CULPA NA BURRICE,OU SEJA,FICAM DIZENDO QUE NÃO FIZERAM POR QUE NÃO SABIAM.
    E TAMBÉM TENHO ÓDIO DAS PESSOASQUE ME CRITICAM PELO MEU JEITO DE AGIR,FALAR,ANDAR,ME VESTIR E ATÉ MESMO PELOS LOCAIS QUE EU FREQUENTO.

    Katarina Mariano Galdino 9ºB

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